O ritual centenário que só o Rei pode realizar no Buda mais importante da Tailândia

Sabe aquelas curiosidades que você só consegue entender quando está com um guia que fala o seu idioma? Aquelas cheias de detalhes culturais que precisam de um contexto histórico para fazer sentido e que, com uma simples tradução, podem se perder no caminho?

Entre tantas curiosidades que nossos guias explicam nos tours, tem um ritual que é uma tradição centenária:

A troca da vestimenta da imagem de Buda de Esmeralda, o mais importante da Tailândia.

Trata-se de uma cerimônia real e fechada, realizada exclusivamente pelo Rei da Tailândia, que troca as vestes da imagem três vezes ao ano, acompanhada por monges e líderes religiosos. Mas, para entender por que esse ritual é tão importante, vale voltar um pouco na história da imagem.

A origem da imagem de Buda mais Importante da Tailândia: Buda de Esmeralda

Segundo a lenda tailandesa, acredita-se que o Buda de Esmeralda foi esculpido na Índia há centenas de anos. Suas características são semelhantes a outras imagens esculpidas nessa região e também no Sri Lanka.

Diz-se que a imagem trazia prosperidade e abundância nas regiões em que estava, por isso, durante muitos anos, reinos e exércitos lutaram por sua posse, não apenas na Índia e no Sri Lanka, mas também em sua passagem pelo Camboja, Laos e Tailândia.

Após muitas disputas e guerras pela Ásia, o primeiro registro oficial da imagem na Tailândia foi em 1391, na região norte, em Chiang Rai. Naquele ano, um raio atingiu o santuário Wat Pa Yeah (antigo nome do Wat Phra Kaew – Templo do Buda Esmeralda) e acertou o nariz de um Buda revestido por um material semelhante ao cimento. Parte desse revestimento caiu, e o monge líder do templo identificou que, por trás daquela camada, havia uma estátua preciosa em esmeralda, supostamente camuflada para evitar que fosse roubada novamente.

O Buda de Esmeralda, agora revelado em sua forma original, permaneceu em Chiang Rai até 1436. O rei da região decidiu então enviá-lo para Chiang Mai, uma cidade maior e com mais devotos. Para isso, pediu que monges e soldados transportassem a imagem sobre um elefante branco. Porém, o elefante desviou o caminho três vezes seguidas e seguiu para Lampang. O rei, acreditando que aquilo era um sinal espiritual, permitiu que a estátua permanecesse em Lampang.

Depois desse período em Lampang, alguns anos se passaram e, a imagem foi finalmente levada para Chiang Mai durante o governo do rei Tiloka e colocada no Wat Chedi Luang.

O rei Tiloka não tinha herdeiros diretos. Ele decidiu casar sua filha com o príncipe herdeiro do Laos (hoje país vizinho e fronteiriço). O príncipe se mudou para Chiang Mai ainda muito jovem e, após a morte do rei Tiloka, foi convidado a governar a cidade. Mas, com apenas 15 anos, recusou o convite, voltou para o Laos e levou consigo a imagem do Buda de Esmeralda. Apesar de prometer devolvê-la um dia, isso não aconteceu.

Depois desse período, a imagem permaneceu no Laos até que, em meio a diferentes guerras por território, em 1778 o Rei de Sião (antigo nome dado à Tailândia) derrotou o Laos e recuperou a estátua, levando-a para o Wat Arun, em Thonburi, Bangkok.

Alguns anos depois, em 1782, ele estabeleceu Bangkok como a nova capital do país e construiu o templo Wat Phra Kaew dentro do Grand Palace para abrigar a imagem do Buda de Esmeralda.

O Grand Palace é um complexo de 218.400 metros quadrados às margens do rio Chao Phraya e foi a residência oficial da família real da Tailândia até a metade do século XX.

É dentro desse complexo que está a imagem do Buda de Esmeralda, considerada a mais sagrada do país.

A troca da vestimenta da imagem de Buda de Esmeralda, o mais importante da Tailândia.

A Tailândia divide seu ano em três grandes estações: verão, monções e inverno. A troca da vestimenta do Buda de Esmeralda acontece na troca destas estações e é um dos rituais mais antigos e simbólicos da monarquia tailandesa. A cerimônia reforça a ligação histórica entre a monarquia e o budismo.

As vestes usadas hoje foram criadas pelos primeiros reis do período Rattanakosin. As túnicas de verão e de monções foram encomendadas pelo Rei Rama I (1737–1809). Já a veste de inverno foi introduzida pelo Rei Rama III (1824–1851). Cada uma representa uma estação.

Em uma cerimônia real e fechada, uma procissão de monges e líderes acompanha o Rei até o templo, onde ele retira a vestimenta atual, banha a imagem com água sagrada e coloca a nova túnica. É um ritual centenario que ainda hoje expressa o respeito profundo do país por suas raízes espirituais e pela monarquia.

As vestes se dividem em:

Monções para Inverno:

Uma túnica de ouro maciço para a estação fria, trocada no primeiro dia do Buddhist Lent.

Inverno para Verão:

Uma túnica dourada com diamantes para a estação quente, trocada em março.

Verão para Monções:

Uma túnica monástica banhada a ouro, com um adorno de cabeça para a estação de monções. É trocada um dia após o Loy Krathong, geralmente em novembro.

Todas foram feitas sob medida, sendo avaliadas em mais de 3,8 milhões de reais. Quando não estão em uso, ficam expostas no pavilhão de insígnias dentro do Grand Palace, e você consegue ver as três durante sua visita.

Te esperamos na Tailândia! 

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