
Publicado em 21/11/25 13:11 por Poli Przybyszewski
Templo Branco em Chiang Rai, Tailândia: a obra que virou símbolo nacional
O Templo Branco, em Chiang Rai, está entre os locais mais visitados por quem vem ao norte da Tailândia. Para muitos brasileiros, ele aparece no topo da lista de lugares imperdíveis, especialmente porque faz parte do roteiro que conecta Chiang Mai, Chiang Rai e, claro, o Festival das Lanternas.
Entender o Templo Branco exige olhar para além das fotos. Para quem está planejando visitar Chiang Rai, conhecer a história por trás da obra ajuda a perceber o sentido de cada detalhe do templo. Todo o conteúdo deste texto foi construído a partir do material oficial disponível no próprio Templo Branco, incluindo a cartilha entregue aos visitantes e o livro do museu. As citações que você vai ler são palavras reais do artista. Aqui, explico quem é o criador do templo, como surgiu a ideia do projeto, quais mensagens ele quis transmitir e por que essa construção se tornou um dos símbolos culturais mais marcantes do norte da Tailândia.
Quem é o artista: história, formação e referências
Ajarn Chalermchai Kositpipat nasceu em Chiang Rai, no norte da Tailândia. Mais tarde, mudou-se para Bangkok para estudar na Universidade Silpakorn, uma das instituições mais respeitadas do país e referência nacional em artes, design, arquitetura e arqueologia. Foi ali, no ambiente mais tradicional de formação artística da Tailândia, que percebeu estar seguindo por um caminho diferente dos colegas. Enquanto muitos se voltavam para a arte europeia, ele começava a buscar algo que ainda não tinha nome, mas que já despertava nele um senso de inquietação e curiosidade.
Ele era um dos poucos que escolheu o curso de Pintura, Escultura e Artes Gráficas nacional. Apenas três estudantes se matricularam, contra mais de quarenta no programa internacional. Os colegas brincavam que ele era antiquado. A crítica não o abalava. Ele já tinha decidido que tornaria as artes tailandesas reconhecidas no mundo.
Como muitos artistas tailandeses da época, começou estudando Monet, Manet, Van Gogh, Dalí, Picasso e outros nomes ocidentais. Tentou reproduzir seus estilos, mas descreveu essa fase como uma farsa.
“Toda vez que eu fazia artes estrangeiras, parecia uma encenação”, contou.
O tédio o afastou das tendências ocidentais e o aproximou dos murais tailandeses antigos. Quanto mais estudava, mais se apaixonava pelas artes nacionais, que estavam sendo deixadas de lado pelas gerações mais jovens.
O resultado desse estudo foi imediato. No quarto ano da faculdade, venceu a Medalha de Ouro nas três Exposições Bua Luang com a obra “Um ângulo da vida tailandesa”. A peça retratava o cotidiano moderno em um estilo semitridimensional, rompendo com padrões tradicionais. O prêmio causou debate entre conservadores e progressistas. Mas abriu caminho para a aceitação das artes tailandesas no cenário internacional.

Esta é uma das obras expostas no museu que retrata o estilo do artista.
Depois da graduação, Chalermchai ampliou seu repertório com viagens e estudos. Em 1980, passou seis meses no Sri Lanka conhecendo templos, esculturas e pinturas budistas. A estética dos templos brancos do país o marcou profundamente. Trabalhou ao lado do artista Manju Sri, realizou uma exposição individual na Lionel Wendt Art Gallery, em Colombo, e vendeu todas as peças quando retornou à Tailândia, algo que reforçou sua independência financeira.
Em 1988, foi convidado a pintar os murais do Wat Buddhapadipa, em Londres. O trabalho levou quatro anos e recebeu críticas.
“Recebi reclamações do governo, de monges e de outros artistas dizendo que aquilo não era arte tailandesa”, relatou.
A polêmica, porém, ampliou sua visibilidade e fortaleceu seu desejo de criar com total autonomia.
“Quero ser o único artista no mundo que pode criar qualquer coisa com total liberdade. Não quero trabalhar sob a influência ou ideias de ninguém.”
Com o tempo, seu trabalho deixou de ser contestado e passou a ser valorizado no mercado internacional. O Rei Bhumibol Adulyadej tornou-se um de seus compradores. Em 1998, uma de suas obras foi vendida por 17.500 dólares em um leilão em Singapura. Anos depois, Food Offering to Monks alcançou 59.375 dólares em 2018. Esse reconhecimento consolidou a liberdade financeira que ele buscava desde o início da carreira e permitiu que desse o passo decisivo para seu grande projeto.

Foi nesse contexto de amadurecimento artístico e independência financeira que, em 1997, Chalermchai iniciou o Wat Rong Khun, o Templo Branco. Uma obra que ele descreve como “o trabalho de sua vida” e que continua em construção sem prazo oficial para terminar.
O Templo Branco: origem da ideia, motivações e visão
Ele queria construir o templo mais bonito do mundo e apresentar ao público a glória da arte budista tailandesa moderna.
Todos os conceitos do templo giram em torno de um ideal: comunicar ensinamentos budistas usando elementos tradicionais e contemporâneos.
“Quero ser bom e valioso para o meu país. Quero criar artes no meu próprio estilo e desenvolver as artes budistas tailandesas para serem aceitas internacionalmente”, afirmou.
E gostaria que visitantes de todas as nacionalidades admirem sua obra como admiram o Taj Mahal ou Angkor Wat, por exemplo.
Nada no Templo Branco é improvisado. Ele decidiu que não estabeleceria prazos. A obra está em evolução contínua. A estrutura é renovada todos os anos. O artista diz que isso acontece porque quer aperfeiçoar cada detalhe. Quem retorna sempre percebe sempre algo novo.

Ele descreve sua relação com o trabalho como um compromisso vitalício.
“Minhas obras são influenciadas pelas artes da Índia, Sri Lanka, Chiang Saen, Sukhothai, Ayutthaya e Rattanakosin. A arte moderna sempre absorve influências de outros períodos. Quero romper com essas influências. Por isso, dedico minha vida a este projeto.”

A cor branca foi escolhida para se afastar do dourado dos templos tradicionais. Segundo ele, o dourado representa o brilho mundano. Já o branco simboliza pureza e o caminho para o Nirvana. Os espelhos aplicados na superfície refletem a sabedoria do Buda iluminando o universo.

Antes de entrar no Templo principal, o visitante atravessa um caminho formado por centenas de mãos que se erguem do chão. Elas simbolizam sofrimento, apego e os pensamentos impuros que, segundo Chalermchai, aprisionam a humanidade e alimentam a violência. O percurso foi pensado como um ritual de passagem. Ao caminhar entre as mãos, o visitante enfrenta metaforicamente o peso das emoções e impulsos que precisa abandonar. Logo adiante, dois guardiões protegem a porta do templo, marcando o limite entre o mundo tomado pelo desejo e o caminho que conduz ao dhamma. Passar por eles representa deixar para trás essas forças negativas antes de seguir para o interior.
Dentro do templo, a experiência muda completamente. Fotografias são proibidas por decisão do próprio artista, que acredita que essa parte da obra só pode ser compreendida presencialmente, no contexto do percurso espiritual criado por ele. Não há como representar essas paredes em imagens: elas foram feitas para serem vistas, não catalogadas. É ali que Chalermchai revela de forma mais direta o que pensa sobre o mundo contemporâneo e sobre o caminho para o entendimento espiritual.
Ele explica que pintou “as paredes de frente para a imagem do Buda, retratando a vinda do Buda a partir da borda do universo em direção ao Nirvana”, porque deseja que as pessoas sintam “paz, felicidade e percebam a bondade do Buda para todos os seres”.
As paredes internas representam esse contraste entre escuridão e clareza. A boca do demônio simboliza os pensamentos impuros que afastam as pessoas da paz. Personagens como George W. Bush e Bin Laden aparecem dentro dos olhos demoníacos porque, segundo o artista, representam forças que “destroem o mundo” e expõem como a violência nasce da ambição e da segregação.
Ele comenta que viu o mundo ser abalado pelo colapso das Torres Gêmeas e queria mostrar que a falta de paz é consequência da deterioração moral humana. Super-heróis e personagens do imaginário ocidental também estão presentes para ilustrar a fragilidade desse desejo por salvadores externos.
Nas palavras dele: “Na verdade, as pessoas precisam de heróis porque sua moralidade se enfraquece.”
A travessia que você fará dentro do templo segue essa lógica: ao entrar pela boca do demônio, ele inicia simbolicamente o processo de deixar esses impulsos negativos para trás.
O artista resume essa ideia ao afirmar que “o Buda nos ensinou a praticar a meditação interior, que leva ao bom senso e ao fim dos pensamentos nocivos”, caminho que permite “alcançar a paz interior que o Buda alcançou”.
Em contraste com essa escuridão, surgem cenas tailandesas que remetem ao cotidiano e à devoção. Personagens remam em pequenos barcos contra a corrente do caos, avançando rumo à imagem do Buda posicionada no centro do templo. Para Chalermchai, essa travessia representa o movimento espiritual de quem abandona o sofrimento e segue em direção à compreensão do dhamma.
Ele explica de forma direta o propósito da obra: “Quero que as pessoas entendam o significado do Budismo por meio da arquitetura, dos desenhos e das esculturas.”
São centenas de detalhes, e cada guia interpreta a obra a partir da sua própria experiência. Na visita, você com certeza irá identificar mais elementos, porque o templo foi pensado para provocar reflexão, não apenas admiração estética.
Essa intenção aparece na própria filosofia de vida do artista em seu livro impresso explicando o Templo: “Ensinei a mim mesmo a disciplinar minha mente, para me tornar uma boa pessoa, parar pensamentos negativos, falar bem e trazer bondade às pessoas. É preciso praticar paciência antes de controlar a própria mente.”

Para manter tudo impecável, há três grandes limpezas anuais, após as chuvas, após o inverno e após o Songkran. Além disso, equipes trabalham diariamente na manutenção. Chalermchai acredita que o Templo Branco deve transmitir paz a todos, independentemente da religião.
Nas palavras dele: “Quero criar um jardim celestial que represente felicidade. Quero que visitantes de qualquer religião sintam paz e alegria e que compreendam o significado do Budismo presente em toda a arquitetura, desenhos e esculturas.”
Também deixou tudo planejado para o projeto continuar após sua morte, com uma equipe de arquitetos, pintores, designers e um comitê responsável por preservar a obra.

Wat Rong Khun com espelhos d’água e esculturas.
O Complexo: o que mais temos para ver no Wat rong Khun?
Quando você sai do edifício principal do Templo Branco, começa outra etapa da visita. Wat Rong Khun é um complexo grande. Vale dedicar alguns minutos para explorar os outros espaços. Cada área traz um pedaço da visão artística dele, sempre com simbologias e referências que misturam religião, crítica social e experimentações visuais.

Os jardins são o primeiro contato fora do templo principal. Com lagos, pontes pequenas e estruturas ainda em construção. Chalermchai continua supervisionando o projeto, mesmo aposentado, e por isso o complexo muda constantemente.
Logo ao lado do templo principal está o edifício dourado. Totalmente amarelo, ele contrasta com o branco do Templo Princiapal. Ali ficam os banheiros do complexo, mas a cor tem sentido simbólico: enquanto o branco representa o espírito, o dourado representa o corpo humano e a busca por desejos materiais.

Luxo e simbolismo até nos mínimos detalhes.
Seguindo pela área externa, você encontrará o poço dos desejos, onde visitantes tentam acertar uma moeda no lótus submerso. A brincadeira também funciona como crítica à ganância, já que o hábito de jogar moedas para atrair sorte reflete mais desejo do que espiritualidade. Ao redor ficam as árvores de doação, cheias de folhas prateadas com nomes, datas e pequenos recados. Cada folha representa uma contribuição de 30 baht, e a quantidade é tão grande que elas precisam sempre ser realocadas para outras áreas.
No fundo do complexo está a Cave of Art. A entrada imita uma formação rochosa cercada por vegetação e pequenas quedas d’água. O interior segue um percurso que começa com representações do inferno e termina em uma área mais “celestial”, com estátuas de Buda e efeitos de luz. A entrada custa 50 baht e não está incluída no ingresso principal.
Seguindo pelo caminho à esquerda, você chegará ao Ganesha Temple, construído no meio de um lago artificial e pintado de dourado. O santuário tem um telhado em forma de sino e uma escultura de Ganesha. O interior abriga amuletos e estatuetas que fazem parte da cultura e tradição budista e tailandesa, vale a pena a visita.

Perto desse santuário fica o crematorium, um prédio branco no estilo característico de Chalermchai. Ao lado estão as salas de meditação. Seguindo adiante, um corredor leva de volta ao poço dos desejos. Nessa área são exibidas obras de outros artistas. O espaço também abriga um grande mural dedicado ao Rei Rama IX.
O movimento constante de visitantes criou uma economia ao redor do complexo, com cafés, lojinhas e bancas de souvenirs. Antes de sair, vale visitar o Chalermchai Kositpipat Museum, também chamado de Hall of Masterwork. A entrada é gratuita. O acervo reúne pinturas produzidas desde a adolescência do artista, esculturas, amuletos e séries inspiradas em suas viagens. O percurso mostra outras facetas da criatividade de Chalermchai e ajudam a entender como sua visão estética evoluiu ao longo dos anos.

Em dezembro de 2025, o ingresso para visitar o Templo Branco custa 100 baht, cerca de R$ 18. Esse valor é destinado à manutenção do complexo, mas não cobre todas as despesas. Em diferentes entrevistas, Chalermchai já comentou que o dinheiro arrecadado não é suficiente para sustentar o projeto, e que ele ainda precisa investir recursos próprios para manter a obra viva.
Também vale mencionar que um dos objetivos do artista, desde o início, foi retribuir à própria comunidade a prosperidade que alcançou ao longo da carreira. O complexo recebe milhares de visitantes por ano, movimenta a economia local e gera empregos diretos e indiretos em toda a região.
Na sua visita, acompanhado por um dos nossos guias, você certamente vai encontrar detalhes que não mencionei aqui. Cada pessoa observa o templo de um jeito diferente, e a explicação presencial sempre revela camadas novas do projeto.
Como chegar: para visitar o Templo Branco, é preciso ir até Chiang Rai, cidade a aproximadamente 250 km de Chiang Mai. Nosso tour Chiang Mai: Templos e Tribos inclui esse templo e outras atrações famosas, como o Templo Azul, estátua de Guan Yin tem aproximadamente 79 metros de altura, Tribo Karen das Mulheres Girafas e uma parada encantadora no Lalita Café (de março a outubro)
Te esperamos na Tailândia!
Khob khun ka ขอบคุณค่ะ
Fontes:
Mr. Leo Schuur e traduzido para o inglês por Malithat Promathataved.
Livro White Temple, distribuido gratuitamente no espaço de suvenirs dentrod o templo.
https://thai.tourismthailand.org/
Publicado em 21/11/25 13:11 por Poli Przybyszewski
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